quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Livro insinua que morte de Edmundo Pinto foi tramada em Cruzeiro do Sul

 

Com o livro de 161 páginas, impresso semana passada pela Editora Nelpa e intitulado “Histórias e Desafios de Trajetória que a História não conta”, Mariazinha de Nazaré vai mexer com a classe política, onde alguns personagens vivem hoje entocados na zona de conforto do imenso abismo do esquecimento em que mergulhou o passado recente do Acre.


REPORTAGEM DE DILSON ORNELAS
E ela tem o que contar. A empresária e ex-vereadora revela, na página 81, que um adolescente lhe procurou desesperado no dia da morte do governador Edmundo Pinto, em São Paulo, para dizer que tinha ouvido dias atrás, em um quarto de hotel de Cruzeiro do Sul, dois homens tramando a morte do governador.
“Não temos condições de eliminar esse governador aqui, pois a única saída é de avião. E nós não temos experiência de floresta. Aqui não dá! Já estudamos todo o local e não tem condições. Você tem que saber quando ele vai viajar para outro local, aqui não dá para fazer o acertado”. Este é o trecho em que Mariazinha de Nazaré descreve parte da conversa que o rapaz teria ouvido no quarto do hotel.
Vereadora foi cassada em 1995
Para a nova geração de cruzeirenses, ou mesmo para os imigrantes que aterrissam no Juruá para novas experiências em suas vidas, Mariazinha registrou a sua versão sobre a cassação que lhe tirou um mandato de vereadora, em 1995. O episódio até hoje estava mal explicado.
Na página 93 o presidente da Câmara lhe procura e diz que em uma sessão secreta os vereadores decidiram criar mais um cargo de assessoria e aumentar os próprios rendimentos com a nomeação de parentes “laranjas”.  Ele procura Mariazinha com a missão de comprar o seu silêncio.
“Queriam me obrigar a nomear meu marido ou uma das filhas, e essa seria a condição para que eu  calasse a boca. Em troca os vereadores não cassariam meu mandato”, lembra-se a autora. Como discordou, foi expulsa da Câmara, que alegou que ela acumulava o cargo de vereadora com outro, no Governo Orleir Cameli. Ela ainda tentou provar que sua função no governo não era remunerada. Mas não adiantou, e foi mesmo cassada.
Fragmentos de História
“Histórias e Desafios…”, embora escrito na primeira pessoa, está longe de ser uma autobiografia.  A autora, contudo, presta papel relevante na documentação de fatos que corriam o risco de cair para sempre no esquecimento, como a venda ilegal de terrenos da prefeitura. Essa prática, que não é nenhuma novidade em Cruzeiro do Sul, hoje inviabiliza investimentos no município, principalmente em casos em que convênios e parcerias exigem a doação de terrenos públicos como contrapartida da prefeitura.
Em um dos fragmentos, o livro revela um encontro rápido e despretensioso com o sindicalista seringueiro Chico Mendes, no balneário do Igarapé Preto. Em outra ocasião (página 98), a autoria diz que se recusou a assinar um recibo onde teria que repassar R$ 30 mil a um deputado estadual, obrigando ao chefe de gabinete do ex-governador Orleir Cameli a providenciar novo recibo.
DNA de mulher valente
Engana-se quem pensa que a baixa estatura ou o nome no diminutivo da autora são indicativos do seu tamanho. Ao contrário, são partes do mimetismo que ela usa para se aproximar de quem se julgava grande, e não era assim tão enorme.
A fama de mulher corajosa, ou valente, fez da autora uma gigante em Cruzeiro do Sul. É fácil descobrir de onde vem o temperamento forte, característica que ajudou a conquistar simpatizantes e votos em sua vida. Descendente de paraibanos e cearenses, Mariazinha descreve nas primeiras 30 páginas de “Histórias e Desafios…” a saga dos seringueiros, primeiros habitantes não índios de Cruzeiro do Sul.
Vale a pena ler. Mas a tiragem, infelizmente, não deve dar para todo mundo.